O que pessoas autistas gostariam que soubesse (mas não dizem)

A comunicação humana é complexa e vai muito além das palavras. Para pessoas autistas, essa complexidade é ainda mais presente e significativa.

Compreender suas experiências, perspectivas e necessidades é um exercício de empatia que pode transformar relações e construir um mundo mais inclusivo. Mas o que será que elas gostariam que soubéssemos, mesmo que não digam com todas as letras?

Neste artigo, vamos abordar alguns pontos essenciais, baseados em relatos e na vivência de pessoas autistas, para ajudar a construir pontes de entendimento e respeito. Continue a leitura e aproveite!

O valor da empatia: ouvir além das palavras

A empatia é a chave para qualquer relacionamento, mas quando relacionada ao contexto de uma pessoa autista, ela assume um papel ainda mais crucial. Muitas vezes, a comunicação não é primariamente verbal.

Expressões faciais, gestos e o tom de voz podem não corresponder às emoções da maneira que pessoas não-autistas  esperam.

O que fazer?

  • Escute com atenção: Preste atenção ao que a pessoa diz, sem interromper ou tentar “completar” suas frases.
  • Valide os sentimentos: Em vez de dizer “não faz sentido”, tente “entendo que isso seja importante para você”.
  • Observe e aprenda: Cada pessoa é única. Aprender os sinais de conforto e desconforto de uma pessoa autista é um ato de cuidado.

Preferências sensoriais e a importância do ambiente

O mundo pode ser um lugar sensorialmente desafiador para muitas pessoas autistas. Luzes fortes, sons altos, texturas específicas de roupas ou alimentos e até mesmo um toque inesperado podem causar um grande desconforto e sobrecarga.

O ambiente ideal é aquele que respeita essas sensibilidades. Um espaço mais silencioso, com iluminação suave ou a possibilidade de usar fones de ouvido, pode fazer toda a diferença, permitindo que a pessoa se sinta segura e consiga se concentrar e interagir melhor.

Comunicação: pessoas autistas tem seu jeito

É um mito pensar que pessoas autistas não querem se comunicar. A verdade é o modo de se comunicar pode variar dependendo da pessoa e do contexto . Alguns autistas são muito verbais, enquanto outros preferem a comunicação escrita, por meio de aplicativos, ou através de seus interesses e ações.

A literalidade também é uma característica comum. Metáforas, ironias e “brincadeiras” podem ser confusas para pessoas com TEA. O ideal é ser claro, direto e objetivo na comunicação.

A sobrecarga emocional e a necessidade de pausas

Interações sociais, ambientes barulhentos e a pressão para “se encaixar” consomem uma enorme quantidade de energia mental e emocional. Isso pode levar a uma sobrecarga, conhecida como shutdown (um “desligamento” interno) ou meltdown (uma crise externa e intensa).

Essas não são “birras” ou “chiliques”. São respostas involuntárias a um excesso de estímulos. Por isso, pausas estratégicas são fundamentais. Oferecer um espaço tranquilo para que a pessoa possa se regular ou simplesmente respeitar a necessidade de ficar um tempo sozinha é essencial para o bem-estar de pessoas autistas.

O desejo por respeito, não por correção

Um dos maiores desejos de pessoas autistas é serem aceitas como são. Muitas cresceram ouvindo que precisam “olhar mais nos olhos”, “parar de se balançar” (stimming) ou “agir de forma mais normal”.

Esses comportamentos, no entanto, são muitas vezes formas de autorregulação e expressão. O stimming, por exemplo, pode auxiliar na organização de pensamentos e com a ansiedade. 

O desejo não é por correção, mas por respeito à sua neurodiversidade. Ser autista não é uma falha a ser consertada, mas um modo diferente de experimentar o mundo.

Depoimentos e reflexões de autistas adultos

Para dar voz a essas vivências, nada mais inspirador do que ouvir diretamente de pessoas autistas. Um dos depoimentos mais influentes e esclarecedores vem de Jim Sinclair, um ativista pioneiro no movimento pelos direitos dos autistas. Em seu ensaio “Não lamente por nós”

O autismo não é algo que uma pessoa tem, ou uma ‘concha’ dentro da qual uma pessoa está presa. 

O autismo é uma forma de ser. É pervasivo; colore cada experiência, cada sensação, percepção, pensamento, emoção e encontro, cada aspecto da existência. Não é possível separar o autismo da pessoa, e se fosse possível, a pessoa que restaria não seria a mesma pessoa com a qual você começou.”

 —SINCLAIR, Jim. Não Lamentem por Nós, (1993).

Essa ideia reflete como a experiência da pessoa com autismo pode ser complexa e com múltiplas perspectivas. Compreender e acolher essas perspectivas é o primeiro passo para criar um ambiente onde pessoas autistas não só existam, mas possam prosperar, sendo exatamente quem são.

Conclusão

O caminho para uma compreensão genuína das pessoas autistas não se baseia em seguir um conjunto determinado de regras, mas em cultivar uma curiosidade empática e um profundo respeito pela diversidade humana.

Como citamos é sobre saber ouvir além das palavras, adaptar o ambiente, ser paciente com os diferentes ritmos de comunicação e, acima de tudo, aceitar em vez de tentar “corrigir”.

Ao normalizarmos essas perspectivas, não estamos apenas apoiando as pessoas autistas ao nosso redor;  mas nos tornando indivíduos melhores e construindo uma sociedade mais inclusiva e acolhedora para todos.
O que achou do conteúdo? Confira outros temas sobre o contexto do autismo em nosso blog!

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