O que é comorbidade e qual sua relação com o autismo?

Muitas vezes, entender o que é comorbidade é a peça que falta no quebra-cabeça de famílias que convivem com o Transtorno do Espectro Autista (TEA). 

Quando uma família recebe o diagnóstico, um caminho de aprendizado e adaptação começa a ser percorrido. 

No entanto, não é raro que, mesmo com as terapias focadas no autismo e todo o empenho da família, alguns desafios persistam. 

Por esse motivo, ao longo deste conteúdo, vamos falar de maneira clara e didática sobre o que é comorbidade e como esse conceito é indispensável no universo do TEA. Continue conosco e aproveite a leitura!

O que é comorbidade e o que esse termo significa na área da saúde?

A palavra comorbidade pode soar técnica ou um pouco assustadora, mas a ideia por trás dela é bastante simples.

Vamos imaginar que uma pessoa vai ao médico e descobre que está com diabetes. Esse é o diagnóstico dela. Alguns meses depois, nos exames de rotina, ela descobre que também desenvolveu hipertensão. 

Nesse caso, a hipertensão é uma comorbidade. Ela não é parte do diabetes, nem foi necessariamente causada por ele, mas é uma segunda condição de saúde que acontece ao mesmo tempo e que precisa de atenção. 

Trazendo para o nosso universo, na área da saúde mental e do neurodesenvolvimento, entender o que é comorbidade é exatamente isso. Ou seja, é reconhecer quando duas ou mais condições estão presentes na mesma pessoa, simultaneamente.

Qual a diferença entre comorbidade e diagnóstico primário?

Essa distinção é muito importante para não misturarmos as coisas. Digamos que o diagnóstico primário (ou principal) é a condição de base. No nosso contexto, é o Transtorno do Espectro Autista (TEA). 

Ele é o diagnóstico que serve como âncora para entender o funcionamento principal daquela pessoa. Por sua vez, a comorbidade é uma condição adicional que pega carona nesse quadro.

Para que você entenda melhor, vamos a um exemplo prático. A dificuldade na comunicação e interação social é uma característica central do TEA (diagnóstico primário). A pessoa pode ter dificuldade em entender figuras de linguagem ou em manter o contato visual.

Agora, se essa mesma pessoa desenvolve um medo intenso e paralisante de ser julgada ao falar, evitando situações sociais por pânico, ela pode ter um Transtorno de Ansiedade Social. Essa ansiedade é uma comorbidade. 

As duas coisas estão ligadas e se influenciam, mas são fenômenos clínicos diferentes e pedem intervenções diferentes. 

Sendo assim, ter em mente o que é comorbidade nos ajuda a enxergar o que é uma característica do autismo e o que é uma outra condição que também precisa de cuidado específico.

Quais são as comorbidades mais comuns associadas ao autismo?

Ao discutirmos o que é comorbidade no autismo, não estamos falando de algo raro. Diferentes estudos mostram que a grande maioria das pessoas no espectro, cerca de mais de 70%, possui pelo menos uma comorbidade. 

O cérebro da pessoa autista tem um processamento neurológico único e essa mesma neurobiologia pode aumentar a predisposição para outras condições. Algumas das comorbidades mais frequentes no TEA são:

Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)

Por muito tempo, os manuais nem permitiam esse diagnóstico duplo. Hoje, sabemos que é perfeitamente possível (e comum) ter os desafios de comunicação do TEA e, ao mesmo tempo, a desatenção, impulsividade e hiperatividade do TDAH.

Transtornos de Ansiedade

Pode ser ansiedade generalizada (uma preocupação constante), fobias específicas, Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) ou ansiedade social. 

Transtornos do Humor

A depressão é consideravelmente mais comum em autistas, especialmente em adolescentes e adultos. 

O esforço exaustivo de masking (mascarar as características autistas) e as dificuldades crônicas de pertencimento social cobram um preço alto da saúde mental.

Epilepsia

Pessoas no espectro têm um risco aumentado de desenvolver epilepsia, sendo essa uma comorbidade física que exige acompanhamento neurológico atento, visto que as crises podem ser sutis ou um pouco mais sérias. 

Transtornos de Aprendizagem

A pessoa pode ter uma inteligência típica ou acima da média, mas apresentar uma dificuldade específica e persistente para ler (dislexia) ou para lidar com números (discalculia).

Transtornos do Sono

A dificuldade para desligar o cérebro, iniciar o sono ou mantê-lo durante a noite é uma queixa quase universal entre as famílias.

Sem sombra de dúvidas, essa é uma comorbidade real que afeta todo o funcionamento do dia seguinte.

Como as comorbidades afetam o desenvolvimento, o comportamento e a aprendizagem?

As comorbidades não se somam de forma simples (1+1=2). Na prática, elas se multiplicam (1+1=5). Isso porque o impacto de uma condição potencializa o desafio da outra.

Pense em uma pessoa autista em sala de aula. Ela já está fazendo um esforço enorme para filtrar os estímulos sensoriais, como a luz da lâmpada e o barulho do lápis do colega. 

Se ela também tiver TDAH, seu cérebro terá uma dificuldade dobrada para manter o foco no que a professora está explicando, lutando contra a sobrecarga sensorial (TEA) e contra a distração interna (TDAH) ao mesmo tempo.

Por isso, compreender o que é comorbidade é tão importante. Muitas vezes, uma terapia focada apenas no autismo não avança, sobretudo, porque há um TDAH não diagnosticado, uma depressão não tratada ou uma ansiedade não identificada. 

Qual a importância de um diagnóstico completo e de uma equipe multidisciplinar?

Se olharmos para uma criança apenas pela lente do autismo, sem um nível maior de investigação, a chance dela receber um tratamento incompleto será grande. 

Em geral, um diagnóstico que não investiga e não explica o que é comorbidade acaba por se tornar uma espécie de mapa falho. 

Quem faz essa investigação? Nunca é uma pessoa só. Para isso, é necessário uma equipe multidisciplinar.

Neuropediatra ou psiquiatra infantil 

Ajuda a entender a parte biológica, investigando TDAH, epilepsia ou ansiedade, e pode avaliar a necessidade de medicação.

Psicólogo (especialista em TEA) 

Responsável por diferenciar o que é um comportamento do espectro e o que é um sintoma de ansiedade ou depressão.

Neuropsicólogo 

Aplica testes específicos que ajudam a medir objetivamente a atenção, a memória e as funções executivas, sendo fundamental para fechar diagnósticos como TDAH ou dislexia.

Fonoaudiólogo e terapeuta ocupacional 

Também são fundamentais para identificar e tratar comorbidades na área da comunicação, processamento sensorial e motor.

Uma boa equipe é aquela em que todos os profissionais se reúnem e, sabendo o que é comorbidade, traçam um plano integrado para o indivíduo.

Como o acompanhamento adequado ajuda a melhorar a qualidade de vida?

Quando as comorbidades são finalmente vistas, nomeadas e tratadas, a mudança na qualidade de vida é nítida. 

Ao tratarmos a comorbidade do sono, a criança finalmente descansa e um cérebro descansado aprende melhor, se regula melhor e tem menos crises. 

Ao tratarmos o TDAH enquanto comorbidade, o aluno talvez consiga, pela primeira vez, prestar atenção na aula o suficiente para mostrar o quanto ele é inteligente.

Acreditamos que compreender o que é comorbidade não significa atribuir mais rótulos à pessoa autista, mas, sim, permitir que ela possa florescer, lidando com os desafios do TEA sem o peso extra de outras condições não tratadas.

Aqui na Edu Autista, nossa missão é caminhar ao lado das famílias e colocar o cuidado em primeiro lugar. 

Quer aprofundar ainda mais os seus conhecimentos sobre autismo? Leia mais artigos em nosso blog! 

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