Para muitos, um abraço significa aconchego, o toque de um tecido é uma sensação neutra e uma etiqueta na roupa é apenas um detalhe.
No entanto, para uma pessoa no espectro autista com hipersensibilidade tátil, essas e outras experiências cotidianas podem ser desconfortáveis e até mesmo dolorosas.
Ao longo deste conteúdo, vamos explorar o que é a hipersensibilidade tátil, como ela se manifesta, seus impactos e como podemos construir pontes de apoio e estratégias eficazes. Continue conosco e aproveite a leitura!
O que é hipersensibilidade tátil e como ela se manifesta no autismo?
A hipersensibilidade tátil, também conhecida como defensividade tátil, é uma resposta neurológica exagerada a estímulos de toque que a maioria das pessoas consideraria inofensivos.
Em indivíduos no espectro autista, o cérebro processa as informações sensoriais de maneira diferente. Dessa forma, para eles, um toque leve pode ser interpretado como uma ameaça, uma invasão ou uma sensação de forte pressão.
Ainda, as manifestações são tão diversas quanto as próprias pessoas no espectro. Elas podem incluir:
Aversão ao toque físico
Recusa ou reação negativa a beijos, abraços e carinhos, mesmo de pessoas próximas.
Seletividade com roupas e tecidos
Desconforto extremo com etiquetas, costuras, tecidos sintéticos ou ásperos, e preferência por roupas mais largas ou, em alguns casos, muito justas (compressivas).
Dificuldades com a higiene pessoal
Rejeição a atividades como cortar o cabelo, escovar os dentes, cortar as unhas ou tomar banho, devido à sensação da água ou da toalha na pele.
Reações a texturas de alimentos
A seletividade alimentar no autismo muitas vezes está ligada à hipersensibilidade tátil. Desse modo, a criança ou o adulto recusa alimentos por sua textura e não necessariamente pelo sabor.
Desconforto com “mãos sujas”
Deixar de brincar com areia, tinta, massinha ou qualquer outra atividade, porque pode sujar as mãos ou a pele.
Andar na ponta dos pés
Uma estratégia para minimizar o contato sensorial com a superfície do chão.
Qual a diferença entre hipersensibilidade tátil e hipossensibilidade?
Enquanto a hiper (prefixo de excesso) sensibilidade é uma resposta exagerada aos estímulos, a hipo (prefixo de falta) sensibilidade é uma resposta diminuída.
Dito isso, uma pessoa com hipossensibilidade tátil pode ter uma necessidade constante de estímulos para sentir seu próprio corpo e o ambiente.
Ela pode buscar pressão profunda, gostar de abraços muito apertados, bater em objetos, se esfregar em superfícies ou não reagir a dor e temperatura como o esperado.
Precisamos mencionar que é comum que uma mesma pessoa autista apresente um perfil sensorial misto, sendo hipersensível a alguns estímulos e hipossensível a outros.
Quais são as causas e fatores relacionados à hipersensibilidade?
A hipersensibilidade tátil não tem uma causa única, mas sim uma origem multifatorial, intrinsecamente ligada à neurologia do autismo.
Acredita-se que o Transtorno de Processamento Sensorial (TPS), uma condição em que o cérebro tem dificuldade em receber e responder às informações que chegam através dos sentidos, seja o principal fator.
No cérebro de uma pessoa com processamento sensorial atípico, as “mensagens” táteis não são moduladas corretamente.
O “filtro” que nos ajuda a ignorar sensações irrelevantes, como a etiqueta da camiseta, pode não funcionar adequadamente, fazendo com que todos os estímulos cheguem com a mesma intensidade, resultando em uma sobrecarga sensorial.
Outro ponto é que fatores genéticos e o desenvolvimento neurológico durante a gestação e a primeira infância também desempenham um papel importante na forma como o sistema sensorial se organiza.
Quais são os impactos da hipersensibilidade no desenvolvimento e na interação social?
As implicações da hipersensibilidade tátil podem permear todas as áreas do desenvolvimento e da vida social:
Desenvolvimento motor
A aversão a tocar diferentes texturas pode limitar a exploração de objetos e ambientes, impactando o desenvolvimento da coordenação motora fina e grossa.
Interação social
A recusa ao toque pode ser mal interpretada como rejeição ou falta de afeto, dificultando a criação de laços.
Dessa forma, atividades em grupo, como uma simples roda de amigos ou brincadeiras no parquinho, podem se tornar fontes de ansiedade extrema.
Vida escolar
O ambiente escolar é rico em estímulos táteis, como a cadeira, a fila com colegas próximos e o toque acidental de outra criança.
A dificuldade em lidar com esses estímulos pode afetar a concentração, o aprendizado e a participação em sala de aula.
Autonomia
Atividades diárias de autocuidado, como se vestir e se alimentar, podem se tornar batalhas diárias, atrapalhando a conquista da independência.
Como identificar sinais de hipersensibilidade tátil em crianças e adultos?
A observação atenta e empática é a principal ferramenta para a identificação de sinais de hipersensibilidade tátil. Sendo assim, fique atento a padrões de comportamento consistentes.
Em crianças:
- Reage com choro, irritabilidade ou fuga ao ser tocado;
- Insiste em usar as mesmas roupas ou se recusa a vestir peças novas;
- Reclama de etiquetas, costuras ou meias;
- Evita atividades de artes com os dedos, areia ou grama;
- Tem uma dieta extremamente restritiva baseada em texturas;
- Mostra grande angústia durante o corte de cabelo ou unhas.
Em adultos:
- Evita multidões e contato físico, como apertos de mão;
- Se sente desconfortável com certos tecidos e texturas em roupas, lençóis ou móveis;
- Pode descrever certos toques como “dolorosos” ou “irritantes”;
- Tem fortes preferências por ou aversões a certas comidas com base na textura;
- Pode sentir a necessidade de se retirar para um espaço calmo após interações sociais para “recarregar”.
Como lidar com a hipersensibilidade tátil?
Antes de mais nada, você deve respeitar os limites da criança, do adolescente ou do adulto. Gradualmente e com apoio profissional, você pode ajudar a pessoa a modular suas respostas.
Comunicação e previsibilidade
Avise sempre antes de tocar. Use uma abordagem calma e verbalize suas ações: “agora, vou ajudar você a colocar a camiseta”.
Respeite o “não”
Se a pessoa recusa um abraço, não force. Ofereça alternativas de afeto, como um “high-five” no ar, um toque de pés ou simplesmente se sentar ao lado dela.
Adaptações no vestuário
Remova todas as etiquetas das roupas. Prefira tecidos de algodão, sem costuras aparentes. Permita que a pessoa escolha suas roupas, dentro do possível.
Dessensibilização gradual
Com a orientação de um terapeuta, introduza novas texturas de forma lúdica e sem pressão. Use caixas sensoriais com arroz, feijão e, aos poucos, elementos com texturas diferentes.
Diálogo aberto
A escola e os professores precisam estar cientes da hipersensibilidade tátil do aluno.
Lugar estratégico
Posicionar o aluno em um local da sala com menor circulação pode evitar toques acidentais.
Flexibilidade
Permitir o uso de fones de ouvido em momentos de sobrecarga ou o acesso a um “canto da calma” com objetos sensoriais que ajudem na autorregulação.
Adaptação de atividades
Oferecer alternativas para atividades que envolvam texturas aversivas. Por exemplo, se a atividade é com tinta a dedo, o aluno pode usar um pincel ou luvas.
Quando buscar apoio profissional e quais terapias são indicadas?
Se a hipersensibilidade tátil impacta expressivamente a qualidade de vida, a participação social, o aprendizado ou a autonomia, é fundamental buscar ajuda profissional.
O Terapeuta Ocupacional (TO) é o profissional mais indicado. Ele vai realizar uma avaliação detalhada do perfil sensorial da pessoa e desenvolver um plano de intervenção individualizado.
A terapia de integração sensorial ajuda o cérebro a organizar e processar os estímulos táteis de forma mais eficiente, diminuindo as reações aversivas e melhorando a autorregulação.
Agora que você aprendeu mais sobre hipersensibilidade tátil, o que acha de mergulhar em outros conteúdos da Edu Autista? Explore o nosso blog!