Imagine passar a vida inteira com a sensação de não se encaixar, como se de algum modo faltasse uma peça no quebra-cabeça da sua identidade. Para milhares de adultos, essa peça tem um nome: diagnóstico de autismo tardio.
Muito mais do que um simples laudo, essa descoberta marca o começo de uma longa caminhada de autoconhecimento.
Essa descoberta é muito mais que um laudo; é o início de uma profunda jornada de autoconhecimento e autoaceitação. Cada vez mais comum, especialmente entre mulheres e pessoas com nível 1 de suporte, o diagnóstico tardio de Transtorno do Espectro Autista (TEA) ressignifica uma vida inteira.
Mas, na prática, o que realmente muda depois dele? Neste artigo, vamos abordar os impactos, desafios e as transformações que acompanham essa nova fase.
O que leva até o diagnóstico tardio de autismo
Múltiplos fatores contribuem para que um adulto chegue ao diagnóstico de autismo tardio . Um dos principais motivos históricos é o viés de gênero nos estudos, que por décadas focaram em manifestações mais comuns em meninos, tornando o autismo em meninas e mulheres praticamente invisível.
Outros obstáculos incluem:
- O Mascaramento (Masking): Uma estratégia de sobrevivência social em que a pessoa autista imita comportamentos neurotípicos para se adaptar, escondendo suas dificuldades e traços autênticos.
- Falta de Acesso à Informação: Fatores socioeconômicos e a desinformação também são barreiras que impedem famílias de reconhecer os sinais precocemente.
- Diagnóstico dos filhos: Muitos adultos só consideram a possibilidade de serem autistas quando identificam as mesmas características em seus filhos recém-diagnosticados.
A montanha-russa emocional após a descoberta
Receber o diagnóstico de autismo tardio desencadeia uma série de emoções complexas e, por vezes, contraditórias.
Alívio e Validação
A primeira reação de muitos é um profundo alívio. Finalmente, há uma explicação para uma vida inteira de desafios. O sentimento de ser “dramático”, “fresco” ou “estranho” dá lugar à validação.
Dúvida e Luto
Logo após o alívio, é comum surgir a dúvida (“Será que sou mesmo autista?”) e o sentimento de luto. O luto pelas oportunidades perdidas, pelos anos de sofrimento sem o suporte adequado e pela pessoa que você tentou ser, mas nunca foi.
O que muda na prática: autocuidado e autoaceitação
O diagnóstico de autismo tardio funciona como um novo par de óculos. A vida não muda, mas a forma de enxergá-la, sim.
A mudança mais significativa é no autocuidado. A pessoa aprende a:
- Saber seus limites: Entender por quanto tempo consegue socializar ou suportar estímulos sensoriais (luz, som).
- Validar o que você realmente precisa: usar fones de ouvido em lugares com bastante barulho ou precisar de um tempo sozinho para se acalmar não é frescura, mas sim uma necessidade importante.
- Deixar de lado o Masking:: muitas pessoas se sentem mais à vontade para abandonar a tentativa de imitar os outros, permitindo que seus comportamentos naturais, como as estereotipias, apareçam sem medo ou vergonha.
O que não muda: sua essência permanece a mesma
É fundamental entender: o diagnóstico de autismo tardio não muda quem você é. O autismo não é uma doença que se adquire; é uma característica do seu neurodesenvolvimento presente desde o nascimento. O laudo apenas dá um nome e um contexto para o que sempre esteve ali.
Sua personalidade, seus talentos, suas memórias e seus hiperfocos continuam intactos.
Na verdade, muitas características antes vistas como “defeitos” são ressignificadas como parte da sua neurologia. A criatividade, a lógica, o pensamento sistêmico e a atenção aos detalhes são forças que permanecem, agora com mais autoconsciência.
Como a rede de apoio pode ajudar nesse processo
O apoio de amigos, familiares e profissionais é fundamental.
- Para a família e amigos: É preciso educar-se. Abandone mitos e frases invalidantes como “você não parece autista”. Compreender que as necessidades são reais e ter paciência fortalece os relacionamentos.
- Para profissionais: Buscar terapeutas e psicólogos especializados em autismo adulto é essencial para navegar o processo de aceitação e tratar comorbidades.
O diagnóstico de autismo tardio permite que a pessoa acesse o suporte profissional e apoio adequados, promovendo uma qualidade de vida que talvez nunca tenha tido.
Conclusão: um novo ponto de partida
O diagnóstico de autismo tardio é menos um ponto final e mais um novo começo. É um convite para viver a autenticidade, e construir uma que seja adaptada às suas reais necessidades. Essa é a porta de entrada para a autoaceitação e para uma sociedade que, de forma gradual, se torne mais inclusiva e consciente.
Se você se identificou com esta jornada, não está sozinho(a). Busque informações, conecte-se com a comunidade autista e considere procurar um profissional qualificado.
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