Durante décadas, o autismo foi entendido quase exclusivamente como um fenômeno predominantemente masculino.
Embora o autismo afete cerca de 1% da população, a proporção tradicionalmente aceita, de quatro meninos para cada menina diagnosticada, permeou desde as práticas clínicas até a cultura popular e a pesquisa científica.
No entanto, evidências recentes indicam que essa diferença pode ser menor, mais próxima de três para um. Essa mudança sugere que o autismo em meninas não é tão raro quanto se imaginava, mas sim subdiagnosticado e sub-reconhecido.
Quer entender o que torna o diagnóstico de autismo em meninas mais difícil? Continue conosco e aproveite a leitura!
Quais são as diferenças na manifestação do autismo em meninas e meninos?
O autismo se manifesta de maneira diferente entre meninos e meninas, o que contribui para o desafio no diagnóstico feminino.
Em geral, os meninos autistas apresentam comportamentos mais evidentes, como dificuldades claras na comunicação social, interesses restritos e repetitivos e grupos sociais mais estruturados.
Já os interesses e as formas de interação das meninas autistas, muitas vezes não correspondem aos estereótipos tradicionais do autismo.
Normalmente, elas utilizam com maior frequência a linguagem não verbal e possuem uma maior capacidade de imitar comportamentos sociais, o que ajuda na adaptação ao ambiente, mas dificulta a identificação dos sintomas.
Outro ponto importante é que meninas com comportamentos mais externos, como agressividade, são diagnosticadas mais cedo. Contudo, aquelas que são tímidas, com baixa sociabilidade ou menos propensas a comportamentos disruptivos, muitas vezes não são percebidas como autistas.
O que é o “masking” e como ele dificulta o diagnóstico?
Um dos principais fatores que dificultam o diagnóstico de autismo em meninas é a estratégia conhecida como masking ou camuflagem social.
Meninas autistas costumam imitar comportamentos neurotípicos para se encaixar socialmente, o que pode mascarar os sinais clássicos do autismo.
Esse processo envolve suprimir comportamentos naturais do autismo e adotar expressões, gestos e formas de interação que são mais socialmente aceitos.
Isso colabora para que familiares, professores e profissionais da saúde tenham maior dificuldade de identificar características neuroatípicas.
E, apesar do masking ajudar na inserção social e minimizar o estigma, ele tem um custo emocional alto, causando ansiedade, exaustão e aumentando a vulnerabilidade a problemas de saúde mental.
Como as normas sociais e culturais afetam o diagnóstico de autismo em meninas?
As normas sociais e culturais que definem a feminilidade exercem um peso enorme na experiência das meninas autistas.
Desde cedo, espera-se que as meninas sejam comunicativas, empáticas, sociáveis e adaptáveis. Ou seja, características que contrastam com a forma como o autismo tradicionalmente se manifesta.
Dito isso, a pressão social para que elas se comportem conforme padrões femininos reforça essa necessidade de ocultação, criando uma dupla exclusão que impacta negativamente o diagnóstico e o bem-estar delas.
De um lado, temos a neurodivergência, que já enfrenta estigma e desconhecimento. E, do outro, o gênero feminino, com suas expectativas rígidas e muitas vezes opressoras.
Essa combinação cria barreiras que dificultam a expressão genuína das meninas autistas, incentivando o masking e aprofundando a invisibilidade clínica e social.
Quais são as limitações dos critérios diagnósticos tradicionais?
Os critérios diagnósticos para o TEA, presentes no DSM-5-TR e outros manuais, foram desenvolvidos a partir de estudos predominantemente masculinos e tendem a enfatizar os sintomas mais evidentes em meninos.
Dessa forma, a falta de sensibilidade desses critérios para o perfil feminino contribui para a invisibilidade do autismo em meninas e para o diagnóstico incorreto em casos de comorbidades como ansiedade, depressão ou transtornos alimentares.
Por isso, é tão importante adaptar os critérios diagnósticos e compreender as particularidades do autismo feminino para garantir que essas meninas tenham acesso ao suporte e às intervenções que merecem.
Quais são as consequências do diagnóstico tardio de autismo em meninas?
O atraso no diagnóstico traz consequências graves. A falta de reconhecimento precoce do TEA impede que as meninas recebam intervenções adequadas que poderiam melhorar suas habilidades sociais, comunicativas e emocionais.
Sem esse suporte, muitas enfrentam dificuldades acadêmicas, exclusão social e problemas de saúde mental, incluindo ansiedade, depressão e sentimentos de inadequação.
A identificação tardia também dificulta a construção de uma identidade autista positiva, indispensável para a autoestima e o bem-estar emocional.
Ainda, meninas diagnosticadas tardiamente têm maior risco de sofrer tratamentos inadequados, como medicação excessiva ou terapias que não consideram suas necessidades específicas.
Quais são os sinais sutis do autismo em meninas?
Os interesses restritos e intensos, que são um critério diagnóstico clássico, muitas vezes se manifestam de forma diferente em meninas.
Ao invés do fascínio por objetos mecânicos ou sistemas, comuns em meninos, as meninas podem se interessar por temas socialmente valorizados, como literatura, animais ou celebridades.
Essa diferença na manifestação não significa menor impacto ou gravidade do autismo, mas sim que ele aparece de maneiras menos óbvias e que requerem uma percepção clínica mais apurada e sensível para ser detectado.
Qual é a importância dos pais e professores no processo diagnóstico?
São os pais e professores que acompanham de perto o desenvolvimento infantil e, por isso, ocupam uma posição privilegiada para perceber os primeiros sinais de que algo pode estar fora do esperado.
Pais atentos, que observam com sensibilidade a rotina de suas filhas, são capazes de identificar dificuldades recorrentes de socialização, comunicação ou adaptação a mudanças.
Já os professores têm a oportunidade de observar como essas meninas interagem em grupo, lidam com regras, respondem a estímulos e enfrentam as pressões do ambiente escolar.
Quando ambos atuam em parceria, compartilham percepções, confiam na própria intuição e promovem um olhar mais atento e informado sobre o desenvolvimento das meninas. Essa colaboração aumenta consideravelmente as chances de um diagnóstico precoce, assertivo e, sobretudo, humanizado.
Agora que você já sabe quais são os fatores que dificultam o diagnóstico de autismo em meninas, o que acha de ler outros conteúdos? Explore os artigos do nosso blog!